domingo, 30 de outubro de 2011

O MAR

Foi como um mergulho. Ouvia pulsações, o mundo era um batimento cardíaco e suspirar em um quase afogamento não fazia dela só emotiva. Era carne, amor e saliva. Era gente.

Não respirava

Embaixo de tanta água, era um feto ágil. Dava voltas, abria e fechava as mãos. Tinha olhos cristalinos, de superfície viscosa e brilhante, proteção para o mar e todo o seu sal.

Era um feto destemido, mas nadava na segurança da areia. Vez ou outra, tocava de leve o fundo. Tinha pulmões resistentes e expelia bolhas. Não para respirar, mas para expressar um sentimento que não tinha contorno nem dizeres. Os olhos agora fechados.

"É bom não sentir o peso do corpo"

Preferia não pensar em nada e ouvir apenas o barulho de ondas que há dentro das conchas, mas a memória lhe dizia que também era bom se sentir forte ao segurar alguém no colo dentro do mar.

Tudo é tão leve, não sou mais ninguém. Não sinto saudade, pois a sua imagem se reflete em raios bonitos e coloridos. O céu tão azul, o tempo nem é de ponteiros agora.

Vibrações em linhas paralelas atravessavam os espaços entre as pernas e os braços, na altura do pescoço. Naquele momento, era a torta estrela infantil multiplicada nas lembranças mais delicadas.

Mergulho para desaparecer

E ver as ondas passando fora de tempo. O mar é a lágrima que deixa meus olhos ardendo, mas sara uns arranhões que fiz não sei quando. Descobri que, se eu não me debater e me desapegar de todos os fardos, também posso ser horizonte.

O Sol é um retorno-despedida sem fim

Minha pele mudou. O Sol está indo embora e eu gosto tanto desse desmaio amarelo breve e infinitamente belo que é o entardecer. Sinto que, a partir deste momento, tudo se põe em silêncio.

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