domingo, 29 de julho de 2012

ANÔNIMO


Esta cidade é um soco nos pulmões. Ela só me faz ficar sem fôlego e me fez virar fuligem. Estou saindo de motores, esbarrando nas paredes das chaminés e me espalhando por um céu azul pálido, quente, de nuvens desenhadas, de Sol-rei-escaldante. Sem brisa.

Já dei passos cíclicos e encontrei semelhanças com pedaços de outras paragens, de outros dias, de outros sentimentos, dos outros. Esta cidade é um espelho quebrado em mil farelos como prato de vidro.

Descubro partículas embaixo dos móveis, encontro fagulhas nos olhos desconhecidos, aprendo a descosturar meus sorrisos. Ganhei um mapa, um lápis e uma borracha. A cada destino conquistado, tenho, como prêmio e castigo, de apagar um caminho do passado. Tenho uma cidade borrada, tenho uns dias desfocados, tenho uma trilha não finalizada.

Esta cidade me traga e me sopra cada vez mais longe. E, nesses voos, vou desbravando ruas distantes, trocando cerveja por mojito, fechando os olhos para o tempo não passar. Estou no centro e despercebida, as pessoas esbarram em mim como em uma pista de dança. Eu ouço seus segredos em suspiros.

Trago balões em formas variadas. Estão cheios de amores, de silêncios, de medos, dissolvidos, desalmados, completos, insanos, solitários, sorridentes.

domingo, 30 de outubro de 2011

O MAR

Foi como um mergulho. Ouvia pulsações, o mundo era um batimento cardíaco e suspirar em um quase afogamento não fazia dela só emotiva. Era carne, amor e saliva. Era gente.

Não respirava

Embaixo de tanta água, era um feto ágil. Dava voltas, abria e fechava as mãos. Tinha olhos cristalinos, de superfície viscosa e brilhante, proteção para o mar e todo o seu sal.

Era um feto destemido, mas nadava na segurança da areia. Vez ou outra, tocava de leve o fundo. Tinha pulmões resistentes e expelia bolhas. Não para respirar, mas para expressar um sentimento que não tinha contorno nem dizeres. Os olhos agora fechados.

"É bom não sentir o peso do corpo"

Preferia não pensar em nada e ouvir apenas o barulho de ondas que há dentro das conchas, mas a memória lhe dizia que também era bom se sentir forte ao segurar alguém no colo dentro do mar.

Tudo é tão leve, não sou mais ninguém. Não sinto saudade, pois a sua imagem se reflete em raios bonitos e coloridos. O céu tão azul, o tempo nem é de ponteiros agora.

Vibrações em linhas paralelas atravessavam os espaços entre as pernas e os braços, na altura do pescoço. Naquele momento, era a torta estrela infantil multiplicada nas lembranças mais delicadas.

Mergulho para desaparecer

E ver as ondas passando fora de tempo. O mar é a lágrima que deixa meus olhos ardendo, mas sara uns arranhões que fiz não sei quando. Descobri que, se eu não me debater e me desapegar de todos os fardos, também posso ser horizonte.

O Sol é um retorno-despedida sem fim

Minha pele mudou. O Sol está indo embora e eu gosto tanto desse desmaio amarelo breve e infinitamente belo que é o entardecer. Sinto que, a partir deste momento, tudo se põe em silêncio.