- Ainda vai morrer de acordar.
Os olhos enormes se abrem em um movimento desajeitado, fazem um giro desconexo e esbarram em um dia manchado de noite, no quarto desarrumado, no corpo se movendo em um quase afogamento, na cortina, no despertado tão distante.
- Eu estou atrasada!
Nunca consegue entender as horas, é cega para ponteiros e mostradores digitais, criou horários próprios e os outros vivem a dizer que está atrasada e atrasada. Atrasada, Atrasada.
Atra-Sada
Atra-Sada
Atra-Sada
Sempre acha que não lhe resta mais tempo e se ergue trêmula da cama, desvencilhando-se dos tentáculos macios dos lençóis e cobertores. Percebe que faltam tantas horas.
Emite grunhidos indecifráveis, um grito engasgado. Terror diurno, meu despertador.
Não há data certa, não vou citar horários, mas faz tempo que acordar é um pesadelo. Minha mãe conta agora, em minha memória, que fui um bebê com um despertar sempre tão desesperado. Risonha ao longo do dia, a criança se diluía ao acordar.
- Nunca entendi, você acordava assustada, chorando.
E ali, emoldurada em um estado de sonambulismo, revira pensamentos confusos. Tira os cabelos desorganizados do rosto e se olha no espelho. Está transtornada e se pergunta onde esteve no dia anterior.
Não foi ao aeroporto para se despedir dos primos que vieram do interior.
Não foi ao encontro com aquele cara para quem tinha reservado seu sorriso mais enigmático e atraente.
- Eu não fui trabalhar ontem!
- Onde eu estava?
- Eu dormi o dia inteiro?
- Meu Deus, o que eu fiz na segunda-feira?
Em cenas desfocadas, vários telefonemas no trabalho. Abraços de despedida. Um beijo ao final do encontro. O piso frio de madeira sob os pés. Suspiro abafado. O peito se deita com uma aguda dor.
Os olhos enormes se abrem em um movimento desajeitado, fazem um giro desconexo e esbarram em um dia manchado de noite, no quarto desarrumado, no corpo se movendo em um quase afogamento, na cortina, no despertado tão distante.
- Eu estou atrasada!
Nunca consegue entender as horas, é cega para ponteiros e mostradores digitais, criou horários próprios e os outros vivem a dizer que está atrasada e atrasada. Atrasada, Atrasada.
Atra-Sada
Atra-Sada
Atra-Sada
Sempre acha que não lhe resta mais tempo e se ergue trêmula da cama, desvencilhando-se dos tentáculos macios dos lençóis e cobertores. Percebe que faltam tantas horas.
Emite grunhidos indecifráveis, um grito engasgado. Terror diurno, meu despertador.
Não há data certa, não vou citar horários, mas faz tempo que acordar é um pesadelo. Minha mãe conta agora, em minha memória, que fui um bebê com um despertar sempre tão desesperado. Risonha ao longo do dia, a criança se diluía ao acordar.
- Nunca entendi, você acordava assustada, chorando.
E ali, emoldurada em um estado de sonambulismo, revira pensamentos confusos. Tira os cabelos desorganizados do rosto e se olha no espelho. Está transtornada e se pergunta onde esteve no dia anterior.
Não foi ao aeroporto para se despedir dos primos que vieram do interior.
Não foi ao encontro com aquele cara para quem tinha reservado seu sorriso mais enigmático e atraente.
- Eu não fui trabalhar ontem!
- Onde eu estava?
- Eu dormi o dia inteiro?
- Meu Deus, o que eu fiz na segunda-feira?
Em cenas desfocadas, vários telefonemas no trabalho. Abraços de despedida. Um beijo ao final do encontro. O piso frio de madeira sob os pés. Suspiro abafado. O peito se deita com uma aguda dor.
Um comentário:
...lindo texto...
Você parece falar da minha irmã em vida.
um cheiro pra tu!
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