terça-feira, 29 de setembro de 2009

DIÁLOGO SOBRE O SILÊNCIO E SEUS SONS

Ela está deitada no sofá, lençol verde desbotado, televisão ligada. Pensativa, fecha a expressão e pergunta: - A sua cabeça... A sua cabeça tem muito barulho? - Não, tem não. Que tipo de barulho? - Barulho, sons, muitos sons. É uma confusão de sons, zumbidos, pensamentos... Minha cabeça é muito barulhenta, não consigo me concentrar. Sempre foi assim à noite. Queria que parasse, queria silêncio. - Tenho não isso... - Sempre à noite, desde quando eu era criança. A noite para mim é mais barulhenta que as ruas. Todos os barulhos do mundo vêm à noite: chuva, folhas ao vento, carros, canto dos passarinhos, conversas do ônibus. Não ouço isso durante o dia. É muito ruim! Olho para a televisão e não absorvo nada. Um silêncio que me traga até a respiração, sinapses em surdina. Nenhum sinal de inquietude e eu queria sentir todo aquele movimento. - Tem certeza?, indagou como se lesse meus devaneios. - Tenho, não ouço nada. A sala muito silenciosa. Só nossas vozes e algumas tragédias no jornal das 20h15.