Como é deliciosa a sensação de dominar os dias! Transformar agosto em janeiro enquanto escrevo algumas palavras, logo mais já é o ano seguinte e eu faço meu próprio tempo. Rasguei todos os calendários, principalmente aquele que ficava na cozinha. Cansei daquela paisagem desbotada e cheia de datas repetidas.
Agora é 31 de dezembro do ano que eu inventei, agora é o dia que eu quiser. Fiz milhares de quadradinhos de datas e joguei tudo para o alto. Hoje não é dia nenhum, é a semana 46, o mês tem centenas de anos, nem idade tenho mais. Achei um calendário na porta da geladeira. Circulei de 1 a 30, dia por dia, era abril. Todos os dias eram especiais, meu aniversário e de meus amigos. Esse ano acabou e é por isso que brinco de mudá-lo sempre que resolvo escrever qualquer coisa.
Adulterei todos os relógios, desperto em horários incertos, faço cara de paisagem. Passagem para outra dimensão, teria eu encontrado a ferramenta que move os ponteiros? No pulso, o objeto só mudava a data ao meio-dia, vivia 12 horas atrasada. Corri tanto, fôlego nenhum.
Meu tempo é outro, não se aplicam a ele cronômetros, é ampulheta invertida. Fina areia que escorre nas vagas das mãos. Tempo que confunde, mente sobre minha existência. Eu o deturpo, finjo que ele não existe. Folhas espalhadas em 30, 31, 28 e 29. Folhas que são doze e mais de trezentas. Folhas múltiplas que eu deixei de contar. Eu, coelho de Alice.
Um comentário:
"o mês tem centenas de anos". Vamos aproveitar cada mês, cada ano, cada segundo neh.
Amei Paulinha
Beijos
(Alana)
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