Fazia tempo que este som não me penetrava os ouvidos. Dava agonia, mas também deixava a alma mais quieta, talvez por devolver lembranças de tempos não vividos. A cada movimento, uma chance de voltar atrás, embora a vontade fosse sempre de apenas seguir. Seguir, só para não perder o elo com aquele vai-e-vem de arranhões, seguindo as linhas côncavas e convexas dos pensamentos.
(...)
Antes era delicioso sentir o aroma amadeirado que sobrava em minha mão. Hoje é quase imperceptível. Ainda me encanta, mesmo assim. Retira fagulhas de meus olhos o tom cinza cintilante das palavras acomodadas no papel. Não sei se brilham porque refletem nas páginas alvas, sei que sempre repousei a face curiosa na folha, depois a movimentava e via como tinham luz própria.
(...)
Também me desesperava e riscava uma grande porção do papel, o suficiente para que qualquer um visse aquele cinza platinado. E brilhava, sim, e de modo tão natural que me parecia líquido. Tenho mais medo de errar quando escrevo a lápis, pois vejo o borrão que deixam minhas incertezas, meus vacilos. Corrijo fazendo algo novo, salvo quando me pego em lapsos. Lapsos a lápis não são mais fáceis de se compreender.
(...)
Eu rasuro escritos, mesmo feitos a lápis. E lápis é uma palavra bonita como lilás e suspiro. Bonita como todas as palavras que podem ser ditas com um sorriso.
3 comentários:
Que lindo, Paula!
Atualiza sempre. Seus reflexos, a lápis, à caneta, ou a teclado, são sempre bem-vindos aos nossos olhos.
Lembrou uma fábula que compara nós, humanos, aos lápis, não me lembro como era a viagem mas tem algo com apagar os erros, se refazer após uma perda...
poxa, isso tb me traz lembranças. vc escreve como os bons e grandes escrevem: com a sensibilidade na ponta dos dedos. bonito isso seu. bjao
Postar um comentário