terça-feira, 27 de novembro de 2007

CONTORCIONISTA

Acrobatas risonhos e palhaços tristes, mágicos apaixonados-iludidos, malabaristas descompassados, lona erguida, tão colorida, é hora do espetáculo. A bandinha começa a tocar uma canção inflamada, instrumentos de sopro e pratos, explosão de sons, os artistas entram correndo e acenando, pratos girando em barras de metal adornadas com fitas de cores vibrantes.

“RESPEITÁVEL PÚBLICO!”, grita o homem gordo de bigode e bota, chapéu, gravata vermelha, a cara toda vermelha, faz tanto calor, pessoas se espremem no banco de madeira gasta.Um tipo magrelo voa pelos ares e prende-se nas mãos de outro igual a ele, talvez por usarem a mesma roupa verde e prata, reluzente, espalhando seus reflexos para todos os lados. Pipoca, guloseimas, crianças, crianças, algodão doce, crianças por todos os espaços entre os adultos, olhinhos atentos, curiosos, espantados, felizes. “Onde está a carta?”. “Para onde foi o coelho?”. “Olha, olha!”. “Ele cortou a mulher e colou de novo, mamãe?”.

Bolinhas, cordões em chamas, objetos descrevem círculos e retas, as mãos agitam-se para manter o equilíbrio. Equilíbrio. Há um homem sobre uma corda, pé ante pé, salto mortal na saída. Sorriso fácil, tombos, o ápice da bobagem, tudo tão desproporcional, nariz, boca, sapatos, voz, principalmente a estridente voz, momento espalhafatoso, desesperador, “Olá, criançada!!!” - seria bem melhor se dissessem apenas tchau!

O silêncio fez-se absurdo e o mágico até derrubou as flores, os malabares fumegantes tombaram, uma lágrima branca invadiu a enorme boca vermelha: a platéia esqueceu de aplaudir a entrada da contorcionista. Cabelo bem preso, purpurina na face, maiô lilás, lábios de coração, uma menina delicada que não se quebra, um cristal flexível. Singela esquelética. Mola de brinquedo, elástico de dinheiro, sapatilhas irritadas ferem o chão de terra batida, sílfide, pedaço de pano, da família dos invertebrados, e ela se apresenta inconformada, “Oh, que carinha de choro!”, caule de flor, perna de besouro, olho de sapo, asa de morcego, pêlo de aranha, dente de cobra, uma poção mágica, no caldeirão da bruxa... Nunca funcionará... Aliás, nem precisou.

A pequena contorcionista desfez-se do nó e, apesar da dor, curvou-se para o público, com um discreto sorriso entre as bochechas. Palmas pequenas e grandes. E, assim, sua vida era um eterno circo...

6 comentários:

Estêvão dos Anjos disse...

n vo mentir q se tiver alguma metáfora eu n entendi :(

mas eu gostei do ritmo e da sonoridade...

bju

Anônimo disse...

vamo lá, acho que deveria fazer um comentário no cacife do teu, mas meu pseudoconhecimentocelomado não permite, entretanto vou deixar uma frase de efeito moral:

"Ah, vida real, como é que eu troco de canal".

Se eu consegui tanger alguma coisa desse teu texto celomado demais, eu diria que você quis transparecer a realidade crua, embora(odeio aposotos), eu pense que ficou muito cheio de parenquima de preenchimento.(metáforas sim, eu adoro)

Anônimo disse...

ah sim, parênquima com acento.

Anônimo disse...

gostei dos demais também, seu estilo é meio Tokien de ser, com ritmo heheheheh irado d+

Pedro Lima disse...

Aue, Pequena!

Sou o Heautontimorumenos do orkut. Rompi o gelo e cá estou!!!

Pedro Lima disse...

Addendum: adicionei teu blogue...;)