segunda-feira, 3 de maio de 2010

29 DE JANEIRO

Cabe a mim, então, desvendar as doçuras das suas palavras não ditas. Quando você sufoca os dizeres é porque está querendo me falar com o brilho dos olhos. Eu finjo entender cada curva do seu "sim", cada nota grave do seu "ainda não". Calado, diz-me sempre mais.

Tenho vontade de chegar mais perto para perguntar por que talvez, se ontem era tão divertido percorrer toda a extensão do que se chama céu. Decifrar o seu vocabulário de espécies de sorrisos é minha sede favorita, principalmente quando a respiração faz parte da sua risada. "És ainda a criança que cultivas dentro de ti?".


Eu saio da sua frente, quero sentir a sua busca pelo rastro que minha sombra deixa, dançar um pouco sem música para que meu perfume se espalhe. Penso em transformar pedaços de papel em leques. Continuar a dança. Ora flamenca, ora oriental.


Na agenda, o quarto dia do mês de julho era marcada por uma folha ressecada. A letra apressada anotou:


Hoje ele finalmente apareceu.
Foi ao meu encontro, mas eu não estava.
Deixou um bilhete.

Um comentário:

Kassia Nobre disse...

que intrigante e misterioso..parece cenário de romance antigo. eu gostei.

bjos