sexta-feira, 19 de março de 2010

DANÇA CARMIM

Olhando-se no espelho, viu que estava melhor. A pele menos oleosa, os lábios tinham pequenas rachaduras. Queria ter certeza de que o novo clima já deixava marcas. Sorriu sem sorriso, algo automático, uma dobra seca se ergueu. Catou pelas bolsas o que procurava, a prova definitiva e encontrou. A pele descorada do rosto virou um filete de quase morte perto da boca tingida de vermelho. Poder-se-ia dizer que não mais era um rosto, mas uma expressão. Sim, o ar gélido havia arranhado os lábios sem beijos dela. Tirou o excesso do batom sugando de leve as costas da mão e sorriu de verdade. Deixou o corpo flutuar pelo corredor. Pisando, ouvia o ritmo de uma música. Piazzolla tão bem fazia isso. Dançou sozinha. Cansada de ser mais um personagem, comeu sem pressa.

2 comentários:

Estêvão dos Anjos disse...

Tao Macabea, tão solidão esse texto

Marcos Bassini disse...

Belo texto, menina.