quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

MINHA IMAGEM NOS ESPELHOS*

O exato instante em que meu rosto aparece focado no espelho finalmente é perceptível aos meus olhos. Parece que a ponte entre observar e sentir está consolidada, ficou mais fácil decifrar os esboços de sonhos. Os rabiscos imperfeitos, feitos a lápis, já podem ser apagados.
(...)
Eu, cada contorno e espaços de intersecção, membros e até as linhas que se modificam quando desavesso as expressões, estamos imóveis para receber traços permanentes. Parei de gritar adeus na janela, perdi os silêncios de abismo. Agora, sou meus precipícios. Entendo das artes confusas. De comer e acordar, da matemática por aproximação, dos reagentes que dão aroma à pele, daquilo que umedece a garganta vazia. Entendo da ciência insana que é não saber para, enfim, entender.
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Com fissuras nos tímpanos, busco respostas para os incertos nas músicas ou nos olhos de cristal das crianças sorridentes e desnutridas. Parece que estou vendo a cena, exatamente agora: minha face de incógnitas refletindo dentro do olhar de um desconhecido.
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Eu me encontrei, quando me vi existindo dentro de alguém, alguém que nunca mais vou reencontrar. São eles, os meus estranhos, que me explicam os pecados das doenças, as mazelas dos soberanos, as cifras dos desvios de percurso, os impactos e aflições. E pegam firme na minha mão, só para me ensinar a escrever, nomear os verbos e dar vez às aspas, voz às mudanças.
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Parece até que sou várias histórias. E acho que sou, todos os dias. Sou todas elas e as que virão. Imutáveis, apenas, nome e sobrenome.
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*Ou "Visão de uma (recém) repórter"

Um comentário:

José Feitosa (Zé da Feira) disse...

A recém repórter parece muito segura em suas observações e reflexões. O interessante é ser uma história ou todas elas, mas é sempre bom não transformar-se em personagem. Mas vale a pena ser concreto nos devaneios.

Não sei se fui claro