sexta-feira, 1 de maio de 2009

DESTINO, FUTURO, AMANHÃ, DEPOIS OU QUALQUER COISA DO GÊNERO

O vidente tirou as cartas erradas para mim ou mentiu por saber que, por um instante, eu seria feliz com aquela história: uma guerreira triunfante, no meio do deserto, com uma espada na mão. Lembro-me como hoje de ter olhado muito bem para os dois lados, para trás, para a calçada, para a grama rala no meio-fio, para as pessoas do outro lado da rua, para o céu nublado, para os carros, para os cadarços bem atados do meu velho tênis.
(...)
Avançava por via movimentada e temia, tal qual Macabéa, cair feia e disforme no asfalto. Por fim, vislumbrar um veículo desgovernado e de placa desconhecida.
- NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!!
Atravessei com sinal livre para pedestres. Ainda restavam resquícios da carta que dizia: "Tu vais vencer!".
(...)
Era um ambiente místico e silencioso. Almofadas coloridas, imagens de deuses orientais, um aroma adocicado de incenso e um homem sereno diante de mim.
- Corte em quatro partes.
Recordo que, na infância, havia uma adivinhação. Era algo como: O que levamos à mesa, cortamos, mas não comemos? Demorei um tempão para descobrir que era o baralho.
Ali, eu era apenas curiosa. O olhar preso à luz embaçada que entrava pela pequena janela, os ouvidos fixos numa melodia suave que tocava ao fundo.
(...)
- Hum! Esta carta é muito boa!
UMA GUERREIRA TRIUNFANTE COM UMA ESPADA NA MÃO, NO MEIO DO DESERTO!
Seria isso mesmo? Meu futuro seria brilhante? Muitas vitórias, um ano de conquistas? Uma vida de alegorias e alegrias? Confesso que senti minha testa e minhas sobrancelhas se contraírem, meus olhos se voltarem para baixo e para o canto. Era desconfiança. Acreditar na felicidade era difícil, fiquei pálida quando ele me perguntou se "mamãe vai bem". Seria um caminho cheio de pedregulhos, mas tudo daria certo.
- Você vai ter um ano bom, menina.
(...)
- No livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, não sabemos se a vidente errou ou se ela mentiu para Macabéa, ao ver seu fim trágico na bola de cristal, explicava meu professor de Literatura, há cinco anos.
(...)
Olhei firme para os dois lados. Notei, enfim, que não havia semáforo. Passou o último carro, atravessei a pista estreita correndo. O vento veloz e frio do ônibus desarrumou meus cabelos.

6 comentários:

Kassia Nobre disse...

UMA GUERREIRA TRIUNFANTE COM UMA ESPADA NA MÃO, NO MEIO DO DESERTO!

As cartas não mentem..é o que dizem...vc é guerreira moça, nao se esqueça disso..

e a lembrança da macabeia foi no dia da visita?

bjos

José Feitosa (Zé da Feira) disse...

Guerreira você é, com certeza. Em punhe a espada e vai à luta, confiante, que todo deserto tem um oásis.

Bjos

Estêvão dos Anjos disse...

Bichinha da Macabéia...

Pei Fon disse...

Olá nina!!!
passando para retribuir sua visita
e fico feliz que esteja gostando
das loucuras que escrevo ^_^

Você foi recebeu um selo:
http://confidencia-inconfiavel.blogspot.com/2009/05/selo-lista-de-desejos.html

Veja no meu blog como funciona a brincadeira.

Sil Leite disse...

somos nós de nós mesmos.
(trocadilho barato...)

somos nossos maiores inimigos!
vc so perde se quiser.

Igoarias disse...

Gostei do seu blog, tinha o visto em alguns outros blog's, voltarei aqui mais vezes, estou como seguidor, abraços fortes, agardo sua visita em meu blog, também curto o blog Arte na Artéria. Fui...