terça-feira, 28 de abril de 2009

A COR DO CÉU

Estava cada vez mais perto. E era diferente de quando eu olhava de baixo, à noite, as nuvens queimadas pelo sol escaldante do dia inteiro. Era bom imaginar que o céu era levemente arredondado, sentir a ilusão de que a lua ia cair pesadamente sobre mim. Melhor eram todas aquelas estrelas cintilando bem longe, dando um brilho artificial e feliz aos meus olhos.
(...)
Eu estava chegando perto e estava viva. Talvez por um instante, mas era como se não estivesse. Não era azul, tinha um denso tom negro, era possível ver sua cor. As nuvens eram castelos disformes e tinham algo fantasmagórico, a lua era um risco quebrável. O meu navio avançava. A cada balanço, eu contava um sonho. Ao meu lado, a cadeira vazia enxugava o suor febril de quem repetia uma velha história. "Não diga isso! Não diga que o céu é preto, minha filha. É apenas noite", a voz familiar da minha mãe batia nas paredes da minha memória.
(...)
Lá embaixo, a cidade mostrava suas curvas com luzes coloridas.
"Eu não vejo pessoas. Elas não existem mais? Por que a noite é amarela?"
Continuei contando um resto de lembrança, enquanto meus ouvidos começavam a doer. A música de que aprendi a gostar tocava cada vez mais baixo... "Um dia, será mais perto e eu terei espalhado alguns escritos por toda a superfície". A minha mesa era o céu de noite, com suas construções irregulares e de bordas douradas.
(...)
Eu poderia cair naquele momento, desfazer a matéria em blocos coloridos. Poderia ser algo além das estrelas que ricocheteavam no casco daquele navio. Ele não era nada mais que uma embarcação levando meus desejos, caixotes cheios deles. Notívago, um fugitivo notívago desbravando um negro mar de céu...

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