segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

ONDE ESTÁ MEU UMBIGO?

Fazia tanto frio enquanto conversavam e quando ele resolveu partir, um tipo de calor torpe cobriu a alma seminua dela. Talvez fossem as camadas de pensamentos ou o casaco de linho, talvez fossem as horas passando, talvez aquela voz entoando uma canção que adorava.
(...)
Tocou levemente a própria face, como que a afastar as pequenas fagulhas que lhe davam um tom róseo. Depois, arranhou os lábios com a ponta das unhas. Eles se abriram e pousaram em instante de beijo, estáticos, seguraram um sorriso.
(...)
Acarinhar o queixo, rodopiar os dedos pela artéria vital, fazer uma pausa na cova da garganta, que não silencia, pulsa. Continuar por outras nuances, pelos côncavos semi-círculos que ostentam o que diferencia os anjos dos homens. Será que roubaram? Talvez não queiram pedir qualquer tipo de perdão.
(...)
Apalpa a fome e pára onde tudo começou. Vida e dúvida. Onde está meu umbigo? Ovalado e pouco profundo, guardião da minha essência. Onde está meu umbigo! Então, reflexões, lembranças, saudades, dores, palavras, suspiros, afetos, eu quero, quero tanto...
(...)
Onde está, meu?
(...)
A mais bela cicatriz. Dolorosa e esquecida, a primeira de todas. O ponto central para a sequência dos dias. Nela cabe suor e tecido, a ponta dos dedos e o mito de que por ali também se morre. Onde está?
Perguntava sempre, só para não se esquecer de que existia...

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